5 de nov. de 2011

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 Por necessidade eu escrevo. O tempo é curto. O tempo é infinito e cabe a nós darmos o movimento, sair de si. Travar o que queremos e empurrar o resto pra fora deste círculo, escorraçar destes oito infinitos. A repetição não cabe, não responde, no máximo aponta as direções possíveis, e nós continuamos aquém de qualquer uma das dualidades. Insistindo na busca que resposta não é tudo que sopra ou segue ventando. O não escrito, o não escrito ainda. Sempre o que não foi feito, o além aqui do lado, enfim. Folha é tudo que pra mim é sagrado, a página branca ainda que pergaminho virgem, mas a página vazia em si. Sem tempo, as nuvens continuam paradas. Tudo como mentira. Entender que verdadeiro é tudo o que não existe. Existência de um poema que não existe, não existência longe e dentro de mim. Só o movimentar que importa. O sair de si, que muitas vezes se resume em colocar no papel. Dar impulso a este intento em direção a outro que não eu, nunca o somente eu. Puxar tudo que é sentimento lá do fundo e com esse poder invocado rabiscar as estátuas, as bases mortas desse mundo. Não conheço magia maior do que essa. Poesia é aonde eu separo o meu sagrado de tudo que é profano. Aonde como Deus eu crio, manifesto o meu querer mais bruto. Sanidade, sagacidade, Amor demais em minha cidade. Trata-se de escolha, escolher sempre e se vagabundo não topar eu só lamento. É meu Sol, companheiro. A forma única que eu sei brilhar e as vezes queima mesmo, espalho as labaredas e ainda fico rindo. É pela gargalhada, meu cumpadi. O despertar da Kundalini por vezes como serpentina. Ninguém é feito de ferro, é água demais nessa cidade, dor e alegria trocando fluidos na suruba. Somos o que somos. E ainda assim tentando ser maior. Não diferente mas mais amplo. É da amplidão que trata o poema, da alegria na ponta da borduna, de nossa dança com nossos orixás sorrindo. Santo bom é o feito em casa. Criando então as próprias divindades, louvando os 4 cantos mas não somente: há muito mais além do arco-íris e pra quem não é bruxo eu não falo nem meio. Nada é feito de metades, meu camarada, é Exu na porteira e os outros milhares de caminhos. Tudo é mais que possível, tudo é possibilidade, o infinito que você quiser acreditar e te prometo: vai ser somente isso. Quem carrega a própria faca pode fazer o que quiser. Quem é carregado pela sua Vontade é liberto. Procuro, olho em baixo das pedras pela rua, mas tudo que é infinito ainda teima em me fazer rodeio. Girando em torno 1.01, 11:11 e os outros zeros que não couberam. Te digo que eu trago de dentro e se pá, eu olho mais fundo. Não há nada além da palavra. Não essa que tá escrita, mas as outras, que não foram pensadas. Poesia brota como glossolália, comunicação totalitária na veia e a vontade que dá é segurar a correia com as duas mãos. Ainda não, ainda não. Calma que eu ainda solto. Importante é o fluxo em mim e no momento Bia que ajuda a acalmar o dragão. Pois nós somos de todos os deuses e demônios. Isso é uma declaração e todo poema que se preste também seria. Escrevo então, porque não entendo isso tudo que chamam de mercado, dinheiro, trabalho ou qualquer uma dessas egrégoras menores. Eu acredito na chuva, no vento e na mata fechada. Animista na cidade grande, armado com escárnio e gargalho. Meu deus não é feito de palavras, mas de ideias fudendo entre si. Será que nasce outra frase, outro agora? Tenho menos de uma hora pra acabar esse texto, tomara que entre, são 22:30, e tenho até a hora zero. Poesia se repete demais, masturbação que não é gozo nem quando acabado o poema. Semente em terra escura, misturada milhares de vezes pra virar mercúrio. A alma da palavra está em mim. E flui aos borbotões, golfadas aos céus como afronta, Deus é feito de carne. Não há carne que não seja sagrada. Carrego o poema com sentimento, o vórtice está aberto e o sentimento pulsando através de mim. Invocar isto que eu chamo de fluxo, não sai barato. Muita parada em muito pouco tempo. Tempo extendido, multiplicado, finito em suas revoluções por palavra, tempo meu. Todo meu tempo é meu. Posse e responsabilidade. Cabe a mim, você, todos nós, em coletivo ou em manada, girar esta terra pra frente. Mil anos a mais até não haver mais guerra. Só amor e sacanagem, pois sacanagem, esta troca de fluidos que nos faz e pela qual nos fazemos mais, é o que nos faz maiores. Hoje, haverá amor para todos. Com amor, eu encerro.

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