28 de abr. de 2012

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Andar é bom pra fazer poema. Pra ganhar dinheiro, preciso trabalhar. Não tem mistério e  essa vida não foi fácil. Muitas vezes eu tive que viver ela no grito. Eu preciso escrever. Eu preciso. E preciso fazer dinheiro. Não digo trabalho, que trabalho eu já tenho. Eu escrevo. É isso, morena. Objetivo pra mim em vida, aquela coisa mais sagrada, é atingir nirvikalpa samädhi, pouca bobagem.
Aprendi nas quebradas a parar o mundo e olhar pra dentro. Porque de fundo, já basta o olhar no espelho. Eu não sou um cara tranquilo. Tive que me fazer de bicho e me travestir de montanha pra conseguir seguir viagem. Foi muita água que rolou. Aliás, rola até hoje quando páro e fico vendo filme triste. E eu insisto.
É que se aprendeu desde cedo a derrubar parede na venta. Bom taurino e aprendiz perfeito de filho da puta, abri estrada na borduna e rasguei as palavras em qualquer papel que tivesse pela frente. Quando não tinha, tomava, pedia emprestado e levava, a poesia não deve satisfação a ninguém.
Tive a honra de conhecer os 3 maiores produtores de eventos culturais da cidade oceano. Mandei cada um a merda com a mesma intensidade. Pra fazer poema, não dá pra ter rabo preso. Águas passadas, hoje arrisco até uma amizade. Mas se não fosse no grito, cumpadi, certeza que não ia arriscar alguma vã posteridade.
Fiz o que consegui fazer, e do meu melhor, sempre. Pouca merda nunca constou no currículo. Cagadas, foram de ventilador. Não veio com manual e continuo sem achar os porquês. Insistindo que se derrubam os moinhos, esses milhares. Fiz do jeito que deu, só me falavam que não era o certo.
Qual a solução pra coisa? O que é certo? Porque o diferente não pode ser bacana? Esses iguais tem um cheiro tão careta. A repetição cíclica não leva ao meio. Na metade da maçã continuam havendo cinco. Três e duas. Vinte e três.
O viver, essa cobra sem cabeças, continua me levando. É que é tentativa e tentativa até o intento dar fruto. Multiplicando os paradigmas, tocando da forma que der. Como te disse, o poeta morreu e não deixou mapinha. Tenho que descobrir tudo sozinho. Isso, a cada dia que levanto.
Na geral, a coisa é mais tranquila. É um funil só e não passou, jogo encerrado. Não posso, e isso por trajetória e compromisso, deixar cair a peteca. Frescobol não aprendi. Nem a surfar aliás.
Aprendi a tomar caldo e levantar. Manter a base olhando adversário no olho. No caminho do guerreiro não pode haver dúvida que a onda leva. Arrasta mesmo. Mas não é pra qualquer um. É preciso loucura e uma boa talagada de sorte. Se embrenhar no mato e saber onde fica o sul pelo sol que se carrega no peito.
Aprendi a ter peito, peito de aço mas com bandeira branca. Erguer os dedos em faca e rasgar os infinitos sorrindo. Aprendi a ser forte. Não teve jeito e várias vezes não foi a melhor escolha. Mas o tempo não pára. E era necessário manter o poema.
Que não veio de mão beijada; que não apareceu no sonho; que não saiu no bicho.
Poesia é metáfora da minha vida. Aos gargalos, aos gargalhos, pelas tabelas, escorrendo pelos cantos. Escorrendo até achar o próprio rio. Que todo poeta é oceano ou seria bom que fosse. Conseguisse atravessar deserto e brilhar estrela e aí então sorrir criança. E aí então sorrir criança e poder descansar e jogar bola. Que jogar bola é uma coisa legal.
Mas trabalho, essa forma besta de se fazer um troco, isso nunca foi fácil. Há um mito e há um fato. O mito garante a cerveja, o fato sustenta o poema. Qual dos dois me mantêm inteiro? Dinheiro, esse outro mito necessário? Poema, esse fato corriqueiro? Tiro dinheiro daonde for, importante é o tum-tum-tum e a soma das manhãs gloriosas. Precisar eu preciso que é raro, nunca foi sempre. E meus outros quinhentos?
Sigo com o punho erguido. Amor em Tsunami. Gritando.
Meus amanhãs serão mais azúis.
Laurent Gabriel 

2 comentários:

Renata disse...

Em manhãs azuis eu ouço blues!
Tu que é fodasticamente bom!!

Renata disse...
Este comentário foi removido pelo autor.