Andar é bom pra fazer poema. Pra ganhar dinheiro,
preciso trabalhar. Não tem mistério e essa
vida não foi fácil. Muitas vezes eu tive que viver ela no grito. Eu preciso
escrever. Eu preciso. E preciso fazer dinheiro. Não digo trabalho, que trabalho
eu já tenho. Eu escrevo. É isso, morena. Objetivo pra mim em vida, aquela coisa
mais sagrada, é atingir nirvikalpa samädhi, pouca bobagem.
Aprendi nas quebradas a parar o mundo e olhar pra
dentro. Porque de fundo, já basta o olhar no espelho. Eu não sou um cara tranquilo.
Tive que me fazer de bicho e me travestir de montanha pra conseguir seguir
viagem. Foi muita água que rolou. Aliás, rola até hoje quando páro e fico vendo
filme triste. E eu insisto.
É que se aprendeu desde cedo a derrubar parede na
venta. Bom taurino e aprendiz perfeito de filho da puta, abri estrada na
borduna e rasguei as palavras em qualquer papel que tivesse pela frente. Quando
não tinha, tomava, pedia emprestado e levava, a poesia não deve satisfação a
ninguém.
Tive a honra de conhecer os 3 maiores produtores de
eventos culturais da cidade oceano. Mandei cada um a merda com a mesma
intensidade. Pra fazer poema, não dá pra ter rabo preso. Águas passadas, hoje
arrisco até uma amizade. Mas se não fosse no grito, cumpadi, certeza que não ia
arriscar alguma vã posteridade.
Fiz o que consegui fazer, e do meu melhor, sempre.
Pouca merda nunca constou no currículo. Cagadas, foram de ventilador. Não veio
com manual e continuo sem achar os porquês. Insistindo que se derrubam os
moinhos, esses milhares. Fiz do jeito que deu, só me falavam que não era o certo.
Qual a solução pra coisa? O que é certo? Porque o
diferente não pode ser bacana? Esses iguais tem um cheiro tão careta. A
repetição cíclica não leva ao meio. Na metade da maçã continuam havendo cinco.
Três e duas. Vinte e três.
O viver, essa cobra sem cabeças, continua me levando.
É que é tentativa e tentativa até o intento dar fruto. Multiplicando os
paradigmas, tocando da forma que der. Como te disse, o poeta morreu e não
deixou mapinha. Tenho que descobrir tudo sozinho. Isso, a cada dia que levanto.
Na geral, a coisa é mais tranquila. É um funil só e
não passou, jogo encerrado. Não posso, e isso por trajetória e compromisso,
deixar cair a peteca. Frescobol não aprendi. Nem a surfar aliás.
Aprendi a tomar caldo e levantar. Manter a base
olhando adversário no olho. No caminho do guerreiro não pode haver dúvida que a
onda leva. Arrasta mesmo. Mas não é pra qualquer um. É preciso loucura e uma
boa talagada de sorte. Se embrenhar no mato e saber onde fica o sul pelo sol
que se carrega no peito.
Aprendi a ter peito, peito de aço mas com bandeira
branca. Erguer os dedos em faca e rasgar os infinitos sorrindo. Aprendi a ser
forte. Não teve jeito e várias vezes não foi a melhor escolha. Mas o tempo não
pára. E era necessário manter o poema.
Que não veio de mão beijada; que não apareceu no
sonho; que não saiu no bicho.
Poesia é metáfora da minha vida. Aos gargalos, aos
gargalhos, pelas tabelas, escorrendo pelos cantos. Escorrendo até achar o
próprio rio. Que todo poeta é oceano ou seria bom que fosse. Conseguisse atravessar
deserto e brilhar estrela e aí então sorrir criança. E aí então sorrir criança
e poder descansar e jogar bola. Que jogar bola é uma coisa legal.
Mas trabalho, essa forma besta de se fazer um troco,
isso nunca foi fácil. Há um mito e há um fato. O mito garante a cerveja, o fato
sustenta o poema. Qual dos dois me mantêm inteiro? Dinheiro, esse outro mito
necessário? Poema, esse fato corriqueiro? Tiro dinheiro daonde for, importante
é o tum-tum-tum e a soma das manhãs gloriosas. Precisar eu preciso que é raro,
nunca foi sempre. E meus outros quinhentos?
Sigo com o punho erguido. Amor em Tsunami. Gritando.
Meus amanhãs serão mais azúis.
Laurent Gabriel
2 comentários:
Em manhãs azuis eu ouço blues!
Tu que é fodasticamente bom!!
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